
“Rezar para alguém que não se sabe, queimar as contas em dia, amar uma onda eletromagnética e dançar para fazer revolução”. Essas são algumas das conexões improváveis sugeridas pela multiartista mineira Luísa Bahia em “Ciberneticamará”, seu novo single. Com participação da pernambucana Flaira Ferro, a música entoa a liberdade e celebra a união entre a tecnologia da “cibernética”, ciência do controle automático e da comunicação, e a ancestralidade da palavra “camará”, que no contexto da capoeira quer dizer companheiro. Uma “bruxaria hi tech” conduzida pelos beats de outro camarada, Rafael Fantini, que assina a produção musical da faixa, acompanhada por um inspirado videoclipe cuja direção é de Ethel Braga. A música já está disponível nas plataformas digitais de streaming e o clipe pode ser assistido no YouTube. Música de Luísa Bahia e Gabo da Luz, “Ciberneticamará” surgiu em 2017 e foi uma das primeiras composições da cantora, compositora, atriz e poeta. “Fiz a letra e a melodia e depois Gabo, grande parceiro musical, fez a harmonia. A música faz parte do repertório do meu show autoral ‘Coisa de Bicho’, desde 2018, mas em 2021 ela ganhou uma nova cara, um refrão e, claro, uma conexão com esse momento mega cibernético que estamos vivendo. Nunca pensamos e sentimos tanto a perspectiva das múltiplas conexões”, conta a artista. Terceiro single de sua carreira, a faixa apresenta de forma potente a irreverência e a poesia que já marcavam os shows. ” ‘Ciberneticamará’ traz a multiplicadade de assuntos, poéticas e sonoridades que estarão presentes no meu disco autoral, que em breve chega aí”, adianta.
A mineira também reverencia Gilberto Gil no título, que remete a “Parabolicamará”, álbum e música do baiano, de 1991. “Honro muito a influência do Gil, que surgiu de uma maneira muito orgânica. Cibernética é a ciência do controle das relações entre seres e máquinas e camará é uma flor e ao mesmo tempo a ideia de companheiro, no contexto da capoeira. Achei bonito juntar essa era cyber que nos conecta, mas que ao mesmo tempo é tão fria, com o camará, que simboliza a potência do encontro caloroso nessa roda do mundo”, diz a artista, refletindo sobre como os assuntos da canção atravessam sua vida. “A espiritualidade é um forte tema para mim e brinco com essa fé que é livre, despretensiosa e cheia de amor pra dar. O absurdo e o fantasioso estão na minha poesia e, por fim, há a política de ser mulher e fazer uso da dança, da cena, da poesia, para fazer revolução”.
A letra não podia combinar mais com Flaira Ferro, que é cantora, compositora e, também, dançarina. “Flaira é uma artista maravilhosa, inspiradora e muito generosa. Nos conhecemos numa residência artística de perfomance em São Paulo, em 2016. Depois disso comecei a acompanhar com muita admiração o trabalho dela. Daí surgiu essa oportunidade, fiz o convite e ela topou de pronto. Acho que o feminismo, a espiritualidade, a bruxaria, a performatividade, mas sobretudo a brincadeira, nos conectam”, diz Luísa, ressaltando a importância de Rafael Fantini na “alquimia” da faixa. “O Rafa colocou no caldeirão da nossa canção, uma característica mais jazzística que a música já trazia, mas trouxe algo bem dançante, com os graves do maracatu, a batida de funk e os beats. Brincamos muito com as falas e risadas, deixando a coisa mais ‘bruxística’, sublinha. O single foi selecionado pela Noize Records Club, dentre mais de 400 projetos e, foi realizado pelo incentivo do Edital Gira 2021.
Videoclipe
O clipe de “Ciberneticamará” se inspira na teatralidade das duas artistas e mistura cenas de cyber gambiarras, pirotecnia, dança e truques de mágica. “O vídeo foi gravado em estúdio, em São Paulo, e de forma remota, com a Flaira, em Recife. Foi fruto de muitas parcerias e envolveu o trabalho de profissionais incríveis”, afirma Luísa Bahia. “Tivemos diversas inspirações. As performances em foto e vídeo da atriz Vera Holtz, foram uma grande referência, o jeito minimalista de brincar com gestos e objetos, nos fisga intensamente. Uma bruxona! O universo mágico do fotógrafo Tim Walker também foi ponto de partida para a construção das imagens”, conta.
Com formação em teatro e fotografia, a diretora Ethel Braga emprestou seu olhar cuidadoso para o quadro, a luz e a narrativa. “Eu e a Luísa somos amigas de longa data e temos uma parceria grande e de muita confiança. Quando ela me chamou para fazer o clipe eu fiquei bem reticente, porque venho da imagem still, apenas flerto com a linguagem do vídeo. Por isso mesmo acho que o clipe tem algo de fotográfico, de mais ‘estático’, no jeito que as imagens foram concebidas”, afirma Ethel. “A gente pensou tudo junto, montamos uma bela equipe de artistas para desenvolver o universo do ‘cibernéticamará’. A minha contribuição foi criativa. De troca, de escuta e de pitacos”, completa. Além da Ethel Braga e da Luísa Bahia, a direção criativa do clipe e o roteiro ficaram a cargo de ciber_org e Luiz Dias, que também assina a direçao de arte e o figurino, junto da marca Norb_Brand e com o apoio da Maria Estrela Joias e do acervo Gaya Bamba.
Celebrado por uma live com a participação de Flaira Ferro – que acontece às 23h, no dia 10/02, no Instagram de Luísa Bahia (@luisadabahia) – o lançamento de “Ciberneticamará” marca um novo momento da trajetória da artista mineira, que se prepara para dar vida a seu primeiro álbum, recheado por dez faixas autorais. “Neste ano, vai rolar o lançamento de mais um single e clipe, com essa forte pesquisa musical e visual também. Me instiga muito pensar a música que se torna imagem, pensar a performance e construir junto o roteiro, a visualidade e tudo mais. Curto criar pensando numa forte identidade artística como um todo, sempre em parceria com artistas que admiro. Acredito na potência da coletividade.”, adianta.